53 anos do AI-5 - um filme, um livro, uma música
Atualizado: 4 de abr. de 2022
2021 foi mais um daqueles anos difíceis para a história brasileira. Ainda que a vacina tenha trazido esperança e algum sucesso no controle da pandemia, a crise política, social e econômica só se aprofundou no país. Deixamos o ano, assim como foi em 2020, com a expectativa de que o próximo ano seja melhor e que possa representar a superação do cenário de crise que parece interminável. Apesar disso, a cultura brasileira ainda resiste, tendo nos agraciado com uma série de produções artísticas de alta qualidade. Por esse motivo, a nossa coluna de hoje é para indicar três dessas produções que foram lançadas neste ano e que dialogam diretamente com o tempo presente. Viremos a página! Que 2022 seja um ano em que saiamos vitoriosos no combate ao fascismo.
FILME:
“M-8: Quando a morte socorre a vida” dirigido por Jeferson De (2020). Confesso que burlei um pouco a retrospectiva, pois o filme foi lançado em 2020, mas foi em 2021 que passou a fazer parte do catálogo da Netflix e alcançou um público maior. Baseado no livro de Salomão Polakiewicz, o filme conta a história de Maurício, jovem negro da periferia do Rio de Janeiro que consegue entrar para o curso de medicina por meio das cotas. O filme, ao mesmo tempo em que demonstra a importância da política de cotas, também aponta para a realidade vivida pelo jovem que adentra um ambiente extremamente elitizado e racista. Por esse motivo, a película aborda o tema de uma perspectiva que pouco foi tratada em produções nacionais, o que demonstra sua originalidade.
LIVRO:
“Anos de Chumbo e Outros Contos” de Chico Buarque (2021). O domínio da linguagem já é uma característica muito conhecida de Chico Buarque, principalmente por suas letras complexas que marcaram a história da música brasileira. Mas nem todos sabem que o artista também é um escritor de mão cheia. Após seu recente sucesso com o lançamento de “Essa gente”, ele mais uma vez nos presenteia com uma belíssima narrativa através dos contos. O livro contém oito narrativas curtas, com recorte temporal que vai da ditadura militar ao tempo presente pandêmico. Um livro curto, leve e de perder o fôlego.
MÚSICA:
“Roteiro para Aïnouz, Vol. 2” por Don L (2021). Nessa eu vou abrir uma exceção para trazer não apenas uma música, mas um álbum inteiro. Don L, que é um dos rappers mais autênticos do Brasil, lançou no mês passado um álbum diferente de tudo que já foi feito na cena brasileira. O artista, que não esconde seu posicionamento político de esquerda e não poupa críticas ao neoliberalismo, traz personagens históricos revolucionários que permeiam suas letras e dialogam com um projeto revolucionário defendido pelo músico. Misturando influências musicais, flows e participações incríveis, o rapper demonstrou mais uma vez seu enorme potencial artístico. Para não deixar de indicar uma música, cito a ótima faixa “Primavera”, com parceria de Rael e Giovani Cidreira, além de um belíssimo trecho do refrão cantando por Rael: “eu que sou de onde a miséria seca as estações vi a primavera, florescendo entre os canhões e não recuar.”
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