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Foto do escritorGuilherme Leite Ribeiro

A biblioteca de... James Green

Atualizado: 11 de jun.

A partir de entrevistas curtas, a série “A biblioteca de...” é um convite para nossos leitores conhecerem mais o universo de nomes importantes da historiografia. Aquele ou aquela que nos inspira pode indicar caminhos de leitura fundamentais para o nosso aprendizado. Por isso, conhecer o que essas referências leem é mais do que uma simples curiosidade: é, antes de tudo, um modo de descobrir novos horizontes de saber.


James N. Green

O convidado desta edição é a historiador norte-americano James Green. Brasilianista, especialista em ditadura militar e um dos nomes mais respeitados na historiografia do movimento LGBTQIA+ no mundo, Green é professor da Brown University desde 2005. Graduado em Ciência Política pela Earlham College, com mestrado e doutorado em História da América Latina pela Universidade da Califórnia, o historiador foi presidente da Brazilian Studies Association (BRASA) entre 2002 e 2004, e seu secretário-executivo entre 2015 e 2020. Sua obra Além do carnaval: a homossexualidade masculina no Brasil do século XX, de 1999, é um dos estudos pioneiros sobre a dinâmica de relações LGBTQIA+ no Brasil. Também são de sua autoria os não menos importantes Apesar de vocês: a oposição à ditadura brasileira nos Estados Unidos, de 2009, e Revolucionário e gay: a vida extraordinária de Herbert Daniel, de 2018. Ao lado de Renan Quinalha, publicou as coletâneas Homossexualidades e a ditadura brasileira: opressão, resistência e a busca da verdade, em 2014, e História do Movimento LGBT no Brasil, em 2018. Este último contou com a organização de Marisa Fernandes e Márcio Caetano. Recentemente, em 2024, lançou um livro com ensaios sobre sua vida, militância e trajetória acadêmica em Escritos de um viado vermelho: política, sexualidade e solidariedade.


Que livro você recomenda para quem está iniciando na área de História?


Natalie Z. Davis, The Return of Martin Guerre (Harvard University Press, 1982). O livro é sobre um camponês francês do século XVI, que deixa sua aldeia para lutar na guerra. Vários anos depois de Martin Guerre ter deixado a mulher, o filho e a aldeia, apareceu um homem que dizia ser ele. Ele morou com a esposa e o filho de Guerre por três anos. O falso Martin Guerre acabou sendo suspeito da falsificação de identidade. Ele foi investigado e julgado. Descobriu-se que ele era um homem chamado Arnaud du Tilh e, sendo assim, ele foi executado. O verdadeiro Martin Guerre retornou durante o julgamento. A narrativa aborda questões de memória histórica e como sabemos o que é “real”. Também foi transformado em um filme maravilhoso com o jovem ator francês Gérard Depardieu.


Qual foi o livro que você mais gostou de escrever?


Revolucionário e gay: a vida extraordinária de Herbert Daniel (Civilização Brasileira, 2018). Nunca tinha escrito uma biografia, nem mesmo li muitas biografias. Então foi um grande desafio, especialmente descobrir informações sobre a vida dele quando, entre 1969 e 1974, vivia na clandestinidade.


Que livro que você escreveu teve maior repercussão e crítica? A que atribui isso?


Sem dúvida, Além do carnaval: a homossexualidade masculina no Brasil do século XX (Editora da Unesp, 2022, 3ª ed. revisada e ampliada). Na época em que o escrevi, não havia uma história abrangente da homossexualidade masculina no Brasil escrita por um historiador. Várias especialistas afirmam que o livro abriu um novo campo de estudo no Brasil e se tornou referência para as novas gerações de estudiosos do universo LGBTQIA+, que trabalham em diferentes aspectos da história queer.


Qual livro de História do Brasil é obrigatório ter na estante? 


Embora eu não concorde com as suas análises, uma história da ditadura, em quatro volumes, de Elio Gaspari é uma obra essencial para a compreensão da ditadura. O texto clássico de Thomas E. Skidmore, De Getúlio a Castello, ainda é uma história política muito abrangente sobre Brasil de 1930 a 1964, embora ele tenha subestimado o papel do governo dos EUA no apoio ao golpe. A obra de Barbara Weinstein, A cor da modernidade: a branquitude e a formação a identidade paulista (EDUSP, 2022) é uma investigação brilhante sobre como as identidades raciais moldaram a história de São Paulo no século XX.


Em sua biblioteca, tirando suas próprias obras, qual autor(a) está mais presente?


Em relação às minhas pesquisas sobre a ditadura militar, dois autores inspiraram meu próprio trabalho: o historiador Carlos Fico, Reinventando o otimismo (Fundação Getúlio Vargas, 1997; 2ª edição, 2024), Como eles agiam (Record, 2001) e O grande irmão (Civilização brasileira, 2008); assim como o cientista político João Roberto Martins Filho e seu livro O palácio e a caserna. (Editora da UFSCar, 1995).


Qual foi o último livro que você leu e que lhe marcou?  


Não é o último livro que li, mas acho muito importante a obra de Celso Rocha de Barros, PT, uma história, que considero um bom retrato do partido e de sua inserção na política e na sociedade brasileiras.


Qual o seu livro preferido fora da área de História?


Doris Lessing, A Ripple from the Storm, publicado em português como Um Murmúrio na Tempestade. O livro retrata a vida de Martha Quest, uma filha de britânicos vivendo em Rhodesia (Zimbabwe), durante a Segunda Guerra Mundial, e sua participação no Partido Comunista.


 Qual tema você pretende abordar no seu próximo livro?


Meu novo projeto de livro, Geração 77: juventude de São Paulo e o fim da ditadura, pretende contar a história de uma nova geração de estudantes ativistas e de líderes dos movimentos feministas, negros e LGBT na luta contra o regime militar e dos debates sobre que tipo de democracia deveria existir após o fim do regime autoritário.

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