As efemérides do golpe de 1964 no contexto democrático
Atualizado: 29 de abr. de 2021
Dissertação: 1964: As efemérides do golpe e a produção historiográfica acadêmica pós-1964 (1994-2014)
Autora: Carine Silva Muguet (Lattes | Dissertação)
Orientador: Carlos Fico
Instituição: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2016
1. Qual a questão central da sua pesquisa?
A pesquisa, que realizou em amplo levantamento de dados sobre a situação da pós-graduação em História entre 1994-2014, buscou identificar em três efemérides do golpe diferentes fases da produção historiográfica do Brasil no pós-1964. O objetivo do levantamento de 921 teses e dissertações produzidas entre 1994-2012 foi reunir trabalhos sobre o golpe e a ditadura, que pudessem indicar os diversos temas de reflexão da comunidade acadêmica sobre o período dos governos militares. Assim, é necessário frisar que o limite desta exposição está na divulgação e análise do montante da produção histórica acadêmica que tenha como marco cronológico o processo golpista de 1964 e, sobretudo, a ditadura (1964-1985) e a redemocratização.
2. Resumo da pesquisa
O estudo abordou a produção historiográfica acadêmica brasileira sobre História do Brasil pós-1964. Por meio do levantamento quantitativo de teses de doutorado, dissertações de mestrado e demais publicações acadêmicas produzidas entre 1994-2014, buscamos averiguar a hipótese de que, em momentos de efeméride, haveria um aumento na produção científica de temas relacionados ao golpe de 1964 e à ditadura brasileira, ensejando maiores debates e repercussão social. Com base em uma grande quantidade de fontes, a dissertação buscou identificar, nas três últimas efemérides do golpe de 1964, diferentes fases da produção historiográfica do Brasil no pós-1964. A pesquisa realizada verificou que a academia tem estado cada vez mais atenta às questões relativas ao tempo presente e que a produção de trabalhos sobre o processo ditatorial ocorre em todas as regiões do país.
3. Quais foram suas principais conclusões?
Acreditamos que a historiografia relacionada às questões do tempo presente na História do Brasil tenha como marco político 1964, concepção que parte da construção de uma identidade temporal interligada à prática contemporânea do historiador. Por isso, nosso questionamento inicial era distinguir em que momento as temáticas relacionadas ao Brasil pós-1964 passaram a ser analisadas na academia e em que medida essas efemérides poderiam contribuir para a ampliação do interesse acadêmico por temas relacionados a esse contexto político. De fato, essa percepção se sustenta se tomarmos não apenas as teses e dissertações, mas também os eventos não acadêmicos e movimentações da imprensa na cobertura desse marco, o que de fato ocorreu ativamente nos anos 2004 e 2014.
Ao analisar as pesquisas brasileiras do tema em questão, buscávamos ainda compreender se havia regiões que se sobrepunham às demais no que diz respeito ao volume de trabalhos e a repercussão deles. Contudo, ao observarmos os dados do INEP e do GEOCAPES de números gerais sobre a pós-graduação, percebemos que esse questionamento não procedia, pois, nas últimas décadas, houve um crescimento impactante de universidades e unidades acadêmicas nas regiões de interior, que, na fase de levantamento, compreendiam 63 programas de pós-graduação em História avaliados pela CAPES. Ao relacionar o processo de expansão da pós-graduação com as pesquisas sobre o Brasil pós-1964, nosso interesse ao expor dados gerais foi comprovar que a questão regional não tem a influência no volume de defesas como poderia existir nas décadas anteriores. Isso porque o processo de interiorização dos programas, concessão de bolsas e a ampliação docente mudou o quadro de migração do pós-graduando, que muitas vezes era levado a empreender suas pesquisas fora da região de origem por não haver programas qualificados ou docentes interessados na orientação de determinados temas de pesquisa. Ademais, cabe apontar que lidar com questões sensíveis ou temas incômodos não é tarefa fácil por uma série de fatores relacionados ao acesso a documentos sigilosos e pela natureza da transição brasileira.
4. Referências
Maria Helena Rolim Capelato (Org.). Produção Histórica no Brasil 1985-1994: Catálogos de dissertações e teses dos programas e cursos de pós-graduação em História. São Paulo: Xamã, 1995, 3 volumes.
José Roberto do Amaral Lapa. Historiografia Brasileira Contemporânea: a história em questão. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 1981.
Ronald Polito; Carlos Fico. A História no Brasil (1980-1989): Elementos para uma avaliação historiográfica. Ouro Preto: UFOP. 1992.
Simon Schwartzman. A Pós-Graduação brasileira no ano de 2020 – Nota sobre a transição necessária da Pós-Graduação. In: Plano Nacional de Pós-Graduação – PNG 2011- 2020. Brasília: CAPES/MEC, 2010, v. II.
Carine Silva Muguet é mestre em História Social pelo Programa de Pós-Graduação em História Social da UFRJ. É licenciada e bacharela em História pela UFJF, sendo ainda habilitada em História com ênfase em Patrimônio Cultural pela mesma instituição (2013). Tem experiência na área de História, com ênfase em História do Brasil Republicano, atuando principalmente nos seguintes temas: Ensino Superior e o Sistema de Pós-graduação; historiografia brasileira; história do Brasil republicano; ditaduras e regimes autoritários; patrimônio cultural e memória. Atualmente é historiadora da Divisão de Patrimônio Cultural da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (DIPAC/FUNALFA), órgão de administração indireta da Prefeitura Municipal de Juiz de Fora – MG.
Caso queira divulgar sua pesquisa sobre temas relacionados às ditaduras latino-americanas do século XX ou sobre questões do Brasil contemporâneo, não necessariamente na área de História, escreva para o email: hd@historiadaditadura.com.br
Crédito da imagem destacada: Missa pelo aniversário do Golpe de 1964. 1º de abril de 1965. Arquivo Nacional, Correio da Manhã, BR_RJANRIO_PH_0_FOT_05608_0055.
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