Os protestantes que resistiram à ditadura
Atualizado: 29 de abr. de 2021
Tese: “À direita de Deus, à esquerda do povo”: Protestantismos, esquerdas e minorias em tempos de ditadura e democracia (1974-1994)
Orientadora: Jessie Jane Vieira de Souza
Instituição: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2015
1. Qual a questão central da sua pesquisa?
Compreender as afinidades eletivas que se construíram entre o igualitarismo religioso e a esquerda política na experiência do protestantismo progressista na última década da ditadura e na primeira década após o fim do regime.
2. Resumo da pesquisa
O trabalho investiga a relação de setores do protestantismo com agendas, partidos e movimentos das esquerdas e minorias durante o processo de distensão da ditadura militar, abertura política e transição democrática (1974-1994). Pretende compreender as mudanças no campo religioso e no campo político que possibilitaram essa aproximação, quais as elaborações intelectuais e ações institucionais que mediaram o processo. Iniciei a análise discutindo o significado de ser protestante na América Latina, pois foi das tentativas de contextualizar o protestantismo no continente que nasceram as teologias e redes institucionais que pensavam a dimensão política da “missão da igreja”. Nasceram assim a Teologia da Libertação (1968), acolhida pelo Protestantismo Ecumênico, e a Teologia da Missão Integral (1970), acolhida por setores do Protestantismo Evangelical. Ambos apresentaram respostas cristãs ao marxismo, que contribuíram para as expressões brasileiras do Socialismo Cristão. Analiso a influência dessas vertentes do Socialismo Cristão dentro do campo protestante, em outras palavras, como elas interferiam no modo de ser igreja, ler a Bíblia, desempenhar a evangelização, produzir teologia e participar da política. Termina por analisar essa participação na abertura política e nas eleições de 1989 e 1994.
3. Quais foram suas conclusões?
A história da esquerda cristã durante a ditadura militar e na democracia recente, sua relação com o marxismo, os partidos de esquerda e minorias militantes, não pode ser contada sem a contribuição do movimento ecumênico e de Missão Integral. Ao mesmo tempo, a história do ecumenismo e do evangelicalismo não pode ser contada sem os caminhos e vicissitudes das esquerdas e minorias durante a ditadura e a democracia recente, nem consideradas equivalentes na relação que estabeleceram com elas. Durante a ditadura militar, o Protestantismo Ecumênico esteve mais próximo dos referenciais marxistas, das inovações teológicas europeias e norte-americanas e das minorias militantes, o que possibilitou filiações mais objetivas aos partidos e movimentos. Suas formulações teológicas, hermenêuticas e eclesiológicas também se posicionavam à esquerda do evangelicalismo. Este, por sua vez, foi mais enfático na afirmação de uma esquerda confessante após o fim da ditadura, disputando ao mesmo tempo o pertencimento aos evangélicos e às esquerdas, mobilizando mais do que os ecumênicos o progressismo religioso nas eleições presidenciais. A hegemonia conservadora nas igrejas e o projeto de poder da bancada evangélica não seriam inerentes à experiência protestante. A diversidade religiosa neste segmento sempre se combinou, em cada conjuntura, a posicionamentos contraditórios à esquerda e à direita. Uma esquerda evangélica, ela mesma diversa e contraditória, é o que este trabalho apresenta.
4. Referências
Luciene Silva de Almeida. “O comunismo é o ópio do povo”: Representações dos batistas sobre o comunismo, o ecumenismo e o governo militar na Bahia. Dissertação de Mestrado. Feira de Santana, UEFS, 2011.
Souza André Souza Brito. “Cristianismo ateu”: O Movimento Ecumênico nas malhas da repressão militar do Brasil, 1964-1985. Tese de Doutorado. Niteroi, Universidade Federal Fluminense, 2014.
Joanildo Burity. Fé na Revolução: Protestantismo e o discurso revolucionário brasileiro (1961-1964). Novos Diálogos: Rio de Janeiro, 2011.
Paul Freston. Protestantes e Política no Brasil: da Constituinte ao Impeachment. Tese de Doutorado. Unicamp. Capinas 1993.
Elizete da Silva. Protestantismo Ecumênico e Realidade Brasileira. Feira de Santana: UEFS Editora 2010.
Zózimo Trabuco é graduado em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), mestre em História Social pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), doutor em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atua como professor de História do Brasil/História Indígena na Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB).
Caso queira divulgar sua pesquisa sobre temas relacionados às ditaduras latino-americanas do século XX ou sobre questões do Brasil contemporâneo, não necessariamente na área de História, escreva para o email: hd@historiadaditadura.com.br
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